A apresentadora do programa A Tarde é Sua, da TVI, utilizou o seu blog pessoal para fazer uma reflexão sobre uma doença que a afetou no passado e que veio à memória depois da morte do ator Pedro Lima. Escreveu no “Simply Flow”, que teve um princípio de esgotamento e quais as soluções que encontrou para contornar esse problema.
“Eu própria, no início de 2018, passei por uma situação complicada por excesso de trabalho. Estava a fazer três programas, as minhas semanas eram de sete dias e os meus dias de trabalho ocupavam 14 horas. Passava parte do tempo fora de Portugal, pouco via os meus filhos, não tinha tempo para mim, nem para os meus, nem para fazer nada daquilo que me permitia descomprimir”.
“Quando dei por mim, comecei a sentir uma tristeza profunda, uma falta de energia e uma série de sintomas que foram tudo menos agradáveis: tonturas, falta de energia, sensação de desmaio, cabeça oca, insónias e falta de vontade para tudo. Tive a capacidade de reconhecer que precisava de ajuda e imediatamente procurei o meu médico de família”.
“Fui medicada, porque precisava mesmo de ajuda química. Foram-me, ainda, dadas as ferramentas e as indicações necessárias para superar aquela fase que eu estava a viver. Uma fase que nada tinha a ver com infância e/ou adolescência, ou com coisas mal resolvidas nessas fases da minha vida. Não, isso não representava nenhuma dor para mim. Tinha a ver, sim, com excesso de trabalho, com exaustão, o que acabou por me arrastar para um quadro depressivo. Foi, também, nessa altura que fiz, finalmente, o luto do meu divórcio”.
“Embora fosse um divórcio escolhido pelos dois, não deixava de ser uma decisão dolorosa. Aliás, se não fosse dolorosa, alguma coisa estava mal, porque, quando as pessoas se casam, casam, porque têm um projeto em comum, partilham um sentimento muito forte e querem viver determinadas coisas juntas. E, se é preciso quebrar esse sonho, é porque esse projeto não vingou. E, portanto, há uma série de sentimentos associados, como a tristeza, que são absolutamente normais e que têm de ser vividos”.
“A capacidade que tive de reconhecer que precisava de ajuda, de ir ter com o meu médico de medicina geral e familiar, de permanecer com a minha psicóloga, de ir trabalhar a parte espiritual, de cumprir, à risca, tudo o que me indicaram, fez a diferença. O meu médico, por exemplo, disse-me: ‘Faça só as coisas que lhe dão prazer, não se obrigue a nada, não esteja com pessoas que, para si, são tóxicas, não atenda telefonemas de pessoas que sabe que não vão fazer outra coisa senão sugar-lhe energia, cansá-la, aumentar-lhe as preocupações”.
“Escute-se, coloque-se dentro de uma redoma e só deixe entrar aquilo que lhe faz bem e as pessoas que sabe que lhe fazem bem’. E eu levei tudo isto à risca! Fazia algum yoga, pouco, porque também não sentia grande capacidade física, nessa altura, fazia meditação, também apenas o que conseguia, e aceitava a minha condição humana. Às vezes, queremos mais, mas não conseguimos”.
“Havia uma coisa que eu tinha bem clara dentro de mim: eu queria sair daquele estado o mais rápido possível, porque eu não era aquela. Eu sabia que eu não era aquela. Eu não era uma pessoa triste. Eu não era uma pessoa deprimida, eu não era uma pessoa com falta de brilho. Não era. Então, se me tinha deixado chegar até ali, também estava na minha mão fazer tudo para sair dali”.
“E assim fiz. E acrescentei outra coisa que, às vezes, também não é fácil: pedi ajuda aos que eu amava, aos meus pais, à minha irmã, à minha filha, que já tinha idade para compreender, e aos meus amigos. Expliquei-lhes que eu não estava bem e que precisava da ajuda deles para recuperar. E, quando há muito amor à nossa volta, tudo acontece mais depressa. E foi isso que aconteceu”.
“Sete meses depois, comecei a fazer o desmame da medicação e o meu médico deu-me os parabéns por ter sido um processo tão rápido, em que ele percebeu que eu me tinha empenhado a 100%. Fiquei mais forte, mais capaz, mais conhecedora de mim própria, mais conhecedora daquilo que me faz feliz. Mas isso não quer dizer que, amanhã, não possa passar por outra situação que me cause uma tal infelicidade que possa acabar numa depressão”.
“Por isso é que eu sou humana. Por isso é que eu sou normal. E reconhecer isto é libertador. Aconselho todos aqueles que estão a passar por uma situação menos boa, seja ela qual for, que reconheçam a vossa fragilidade, peçam ajuda e, acima de tudo, não desistam. Eu acredito que há sempre alguém capaz de nos ajudar”.